Pensamento da Hora

"ALGUMAS PESSOAS COMENTEM O MESMO ERRO DUAS VEZES. OUTRAS SÃO MAIS INTELIGENTES: ENCONTRAM NOVOS ERROS PARA COMETER" (Edson Athayde)









sábado, 31 de março de 2012

Poesia Matemática (Millôr Fernandes)




Prá lembrar Millôr...



Às folhas tantas
do livro matemático
um Quociente apaixonou-se
um dia
doidamente
por uma Incógnita.
Olhou-a com seu olhar inumerável
e viu-a do ápice à base
uma figura ímpar;
olhos rombóides, boca trapezóide,
corpo retangular, seios esferóides.
Fez de sua uma vida
paralela à dela
até que se encontraram
no infinito.
"Quem és tu?", indagou ele
em ânsia radical.
"Sou a soma do quadrado dos catetos.
Mas pode me chamar de Hipotenusa."
E de falarem descobriram que eram
(o que em aritmética corresponde
a almas irmãs)
primos entre si.
E assim se amaram
ao quadrado da velocidade da luz
numa sexta potenciação
traçando
ao sabor do momento
e da paixão
retas, curvas, círculos e linhas sinoidais
nos jardins da quarta dimensão.
Escandalizaram os ortodoxos das fórmulas euclidiana
e os exegetas do Universo Finito.
Romperam convenções newtonianas e pitagóricas.
E enfim resolveram se casar
constituir um lar,
mais que um lar,
um perpendicular.
Convidaram para padrinhos
o Poliedro e a Bissetriz.
E fizeram planos, equações e diagramas para o futuro
sonhando com uma felicidade
integral e diferencial.
E se casaram e tiveram uma secante e três cones
muito engraçadinhos.
E foram felizes
até aquele dia
em que tudo vira afinal
monotonia.
Foi então que surgiu
O Máximo Divisor Comum
freqüentador de círculos concêntricos,
viciosos.
Ofereceu-lhe, a ela,
uma grandeza absoluta
e reduziu-a a um denominador comum.
Ele, Quociente, percebeu
que com ela não formava mais um todo,
uma unidade.
Era o triângulo,
tanto chamado amoroso.
Desse problema ela era uma fração,
a mais ordinária.
Mas foi então que Einstein descobriu a Relatividade
e tudo que era espúrio passou a ser
moralidade
como aliás em qualquer
sociedade.

sexta-feira, 30 de março de 2012

Triste mês de março













Esse mês de março está de lascar!! 


De lascar com a cultura popular brasileira. Primeiro o Chico, depois Ademilde e agora, Millôr!! Céus, onde vamos parar?  Como é triste perder três grandes talentos assim, um atrás do outro.

De Ademilde minha mãe falava com orgulho: "Ela é do Rio Grande do Norte" (ela mesma, uma natalense orgulhosa). Ela costumava cantar para eu ouvir "Tico-tico no fubá", música de Carmem Miranda e grande sucesso de Ademilde. E eu, garoto, reclamava: "Canta mais devagar, mãe, não estou entendendo nada..." 

Saudades de Ademilde. Não foi da minha "época" como gostamos de dizer, mas eu tenho o péssimo hábito de admirar cantores que não foram da minha época. Saudades também da minha mãe, que apesar de viva e com boa saúde, mora hoje quase que completamente num mundo só seu.







O Diário do Nordeste publicou uma síntese da sua carreira:

Em 1941, foi para o Rio. Na cidade, receberia de Benedito Lacerda o título de rainha. Em 1942, gravou o primeiro dos mais de 50 discos (a maior parte, 78 rotações; nos anos 40, 50 e 60, por vezes lançou mais de um por ano). Os maiores sucessos seriam "Tico-Tico no Fubá" - o primeiro de todos -, "Brasileirinho", "O Que Vier Eu Traço" e "Apanhei-te Cavaquinho". Apresentou-se com Canhoto, Jacob do Bandolim e Pixinguinha e com a orquestra de Radamés Gnattali. Também gravou maxixes, marchas e sambas. Excursionou pelo País e pela Europa.




Tico-tico No Fubá
Carmen Miranda

Tico-tico
Tico-tico
O tico-tico tá
Tá outra vez aqui
O tico-tico tá comendo meu fubá
O tico-tico tem, tem que se alimentar
Que vá comer umas minhocas no pomar

Tico-tico
O tico-tico tá
Tá outra vez aqui
O tico-tico tá comendo meu fubá
O tico-tico tem, tem que se alimentar
Que vá comer umas minhocas no pomar

Ó por favor, tire esse bicho do celeiro
Porque ele acaba comendo o fubá inteiro
Tira esse tico de cá, de cima do meu fubá
Tem tanta coisa que ele pode pinicar
Eu já fiz tudo para ver se conseguia
Botei alpiste para ver se ele comia
Botei um galo, um espantalho e alçapão
Mas ele acha que fubá é que é boa alimentação

O tico-tico tá
Tá outra vez aqui
O tico-tico tá comendo meu fubá
O tico-tico tem, tem que se alimentar
Que vá comer é mais minhoca e não fubá

Tico-tico
O tico-tico tá
Tá outra vez aqui
O tico-tico tá comendo meu fubá
O tico-tico tem, tem que se alimentar
Que vá comer é mais minhoca e não fubá

quarta-feira, 28 de março de 2012

Cara ou coroa ou O acaso não existe













Se alguém gira uma moeda, qual é a chance de ela parar com a cara para cima? Nós dizemos que é de 50%. Sim, mas qual é a causa de ela parar com a cara para cima? É o acaso? Não, a causa principal é um ser inteligente que decidiu rodar aquela moeda e aplicar alguma força para fazer isso. As causas secundárias, como as forças físicas do vento e da gravidade, também causam impacto no resultado desse lance. Se conhecêssemos todas as variáveis, poderíamos calcular antecipadamente qual seria a face que ficaria para o lado de cima. Mas uma vez que não conhecemos todas essas variáveis, usamos a palavra "acaso" para encobrir nossa ignorância.



Norman Geisler

sexta-feira, 23 de março de 2012

Adeus, Chico







"Popó"



"Eu não tenho medo da morte...tenho pena de morrer..."


"Tim Tones"


"Alberto Roberto"

"Silva"


E mais de 200 personagens que continuarão vivos...

sábado, 17 de março de 2012

MUDANÇAS








Eu tenho uma verdadeira obsessão por mudanças. A rotina, apesar de ser quase impossível dela fugir, é uma prisão que nos rouba a criatividade e a nossa tendência ao movimento que transforma, recria. Transformar-se é a regra na natureza. Nada se cria, nada se perde, tudo se transforma...lembra da máxima de Lavoisier? Talvez por isso eu viva mudando o layout do meu blogue...Se hoje vou ao mercado pela rua A, amanhã já não vou mais, tomo o rumo da rua B; se li um trecho de um livro hoje, amanhã nem pego nele e já vou à cata de outro; se escrevi um poema ontem, já não sinto vontade de hoje outro poema escrever; se brinquei com meu filho hoje de "cavalinho", amanhã quero que ele veja o vídeo da "Galinha pintadinha"(na verdade, por ele, veria o vídeo todo dia, toda hora...rs). Será essa vontade de mudar uma resultante das minhas andanças pelo Brasil por conta das transferências pregressas do meu pai militar? Ou será mesmo, algum tipo de TOC?



Ah, sei lá, vamos mudar de assunto...



Semana passada andando pelas Lojas Americanas me deparei com um CD com os grandes sucessos do Cauby. Aí tomei consciência de que apesar de admirar demais esse monstro sagrado da MPB eu nunca tinha comprado um disco dele. Pecado imperdoável. Tratei de mudar essa situação. Ontem, na hora de pôr o Eduardinho para dormir, deixei o CD tocando...A voz peculiar do Cauby envolveu o ambiente e eu desfrutei um prazer estético indescritível. Meu filho deve ter sonhado com belas notas musicais bailando ao seu redor.













Um bom domingo a todos os amigos.


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Imagem Brasil Escola

terça-feira, 13 de março de 2012

Roda do Ocaso









Diz o poeta que a vida é um sopro.

Veloz, vai-se escapando pelos dedos
buscando enfim o seu destino final.
A morte é um sono do qual você não acorda,
outro poeta já disse.
Então a morte deve ser boa.
Quem dispensa um tranquilo sono?


Mas um sono eterno?
Sem sol a nascer?
Sem vozes a ouvir,
sorrisos sem ver,
sem da vida,o esplendor?


Um sono assim, ausências tantas...
Mas quem saberá das ausências?
Apenas dorme-se. E pronto.

O afã da vida nos levou à metafísica.

Não será  o nirvana,  ausência de todo desejo?
Não será o karma,  ponte para novo despertar?
Não será  o paraíso, a ressurreição?


Ingrata vida que nos forma,

nos molda, nos faz sentir,
olhar,
desejar,
amar,
odiar

E nos toma tudo,

e nos faz dormir sem sonhar.




Eduardo Medeiros, Rio de Janeiro, 13/03/2012





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É engraçado que depois do nascimento do meu filho eu tenha me pegado a pensar na vida e na morte como nunca antes. Fico pensando que vê-lo crescer(o que todos nós, pais, queremos ) é também ver-me envelhecer. A alegria de vê-lo expandir-se em músculos, estatura, feições e falas, é também ver-me na roda do ocaso. 



De tão absurda, a morte foi feita nossa amiga pelas crenças do pós vida. Então, morrer, não seria o fim, mas o início ou o reinício de uma nova vida. Confesso que tenho sérios problemas com as metafísicas; sou levado, puxado, obrigado a ver a morte como uma coisa tão natural da existência como a vida. Afinal de contas, sem morte, como valorizar a vida?



Mas quem disse que isso basta? Sei que meus átomos não morrerão depois da minha morte; eles se fundirão ao ambiente e voltarão de onde saíram. E minha consciência? E os átomos que em mim, são pensantes e conscientes, o que se fará deles?



Desejo profundamente que continuem conscientes em algum lugar do universo.

sábado, 10 de março de 2012

Sobre duas paixões








Desde adolescente sou dela um apreciador quase fanático. Muitas vezes troquei por ela, o café da manhã como acompanhamento daquele pãozinho na chapa com queijo minas. E hoje, soube que ela terá que mudar a fórmula do seu delicioso caramelo lá nos EUA(por enquanto, só na Califórnia tá valendo), pois uma agência reguladora da Califórnia incluiu o(com o perdão do palavrão) 4-metilimidazol, um corante presente no caramelo da fórmula como cancerígeno. Não, não pode ser, e agora! Meus anos a fio de relação apaixonada foram duramente golpeados...



Sempre ouvi todo mundo me dizendo que ela fazia mal à saúde, que ela tem açúcar demais, que ela é boa mesmo para limpar mármore, pias, etc mas nunca dei ouvidos a estas infâmias.



Aqui no Brasil ela não precisará mudar nada. Cada país tem suas regras. Aliás, nosso país é bem tolerante com drogas proibidas lá fora e que aqui se vende em farmácias sem receita médica.(não que eu esteja dizendo que ela é uma droga...



Mas eis que surge uma luz no fim do túnel! o todo-poderoso FDA, agência que regula alimentos lá na terra de Obama afirmou que uma pessoa teria que beber mais de mil latas para ingerir a dose da substância que foi dada em experiências a animais de laboratórios(pobres bichinhos, sempre eles..).



Pois é, tô falando da minha querida COCA-COLA e da sua dublê PEPSI-COLA.



Bem, mas para ser sincero, depois que fiz trinta, reduzi substancialmente a ingestão do líquido maravilhoso (que só perde para a água como o líquido mais consumido no mundo), e hoje,  no auge dos meus quarenta e seis, só a bebo uma vez ou outra, mas sempre com a admiração adolescente. Mas tenho que confessar que  o que diziam da minha paixão é verdade: tomada em excesso ela engorda, dá estrias(nas mulheres), pode causar diabetes e até gastrite. E esse tal de câncer aí, ainda que não esteja muito claro a questão. Mas pelo sim pelo não...



Bom, a outra paixão que tenho é bem mais saudável e nobre: o azeite de oliva extra-virgem. E não é que o politicamente correto(que até começou com boas intenções mas hoje se tornou ridículo em muitos casos) vai fazer a conhecida marca Galo mudar uma de suas propagandas? 










Criada pela agência AlmapBBDO, a peça publicitária com o texto:


"O nosso azeite é rico. O vidro escuro é o segurança",  foi acusada de promover(sic) o racismo por um consumidor. 


Perá lá, minha gente, promover o racismo? Esse patrulhamento radical está se tornando ridículo. Ora, o azeite é bem mais conservado se estiver em ambientes escuros, logo, uma garrafa "escura" é uma ótima ideia da marca. Aí vem um cidadão e diz que a empresa está promovendo o racismo?



Bom, depois de saber que minha bebida predileta está sob suspeita e o meu azeite predileto é "promotor do racismo", espero que o domingo seja um dia melhor.





abraços

terça-feira, 6 de março de 2012

Céu estrelado








Uma das minhas mais saudosas lembranças era quando eu, menino, deitava-me na grama do quintal lá de casa e ficava olhando embasbacado aquele céu pontilhado de estrelas! Morávamos em uma grande vila militar da Marinha em Salvador, BA, rodeada por uma imensa floresta onde nas manhãs de sábado, eu e a minha turma íamos brincar de desbravadores!



Ao meu lado, meu pai apontava-me as estrelas. "Aquele ali é o Cruzeiro do Sul. Tá vendo, tem um formato de cruz..."; "aquelas três em fileira são as Três Marias". Era um espetáculo tão maravilhoso que eu me perdia nos meus pensamentos...De repente, eu não estava mais ali, deitado na grama, estava lá, com as estrelas. E se tivesse muito sonhador, eu não só passeava com as estrelas, eu mesmo era uma delas.

sábado, 3 de março de 2012

Engenharia de passarinho










Quem te ensinou,  passarinho,
A fazer tão belo ninho?
Que engenharia, que perfeição!
Diga-me,  passarinho, quem te ensinou tal lição?

Quem foi teu professor
Quem te orientou
Na arte de tecer dormitórios
longe do chão?
Diga-me, passarinho, qual matemática usas
em tua construção?



Eduardo Medeiros, Rio de Janeiro, 3 de março de 2012















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fotos: fottus.com